top of page

Tá na Netflix?

  • Foto do escritor: Rebobinando
    Rebobinando
  • 23 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de nov. de 2019


ree

Como ter acesso a filmes, séries e músicas de maneira gratuita, rápida e fácil? Não, esse post não se trata de uma propaganda de torrents ou links duvidosos sobre a maneira de obter tais recursos. A discussão é sobre pirataria - mais especificamente, sobre pirataria no meio digital -. Bem longe do conceito original, dos roubos em alto mar, as ondas aqui serão outras. Com mais pessoas acessando a internet, a disseminação de produtos se tornou facilitada ao ponto de não mais ser preciso ir ao cinema para assistir aos filmes do momento, podendo simplesmente “baixar” o arquivo ou assistir online mesmo, de forma gratuita e, ainda por cima, no conforto de casa.


Essa atividade se tornou bastante comum nos anos 2000 justamente por ser prática e barata - apesar dos riscos para o computador - e muitos foram os esforços para tentar acabar com o compartilhamento ilegal de arquivos na internet. Esses esforços se provaram insuficientes e, ainda hoje, é comum encontrar diversos sites de filmes e séries online ou os que reúnem e disponibilizam os famosos torrents. Porém, também não é nada extraordinário se deparar com esses mesmos sites bloqueados ou fora do ar, o que, para alguns, é revoltante.


A revolta vem dos que não enxergam a pirataria como um crime, um desrespeito aos direitos autorais, mas como democratização da cultura. Para além da praticidade, a lógica da pirataria seria subverter o sistema que cobra caro para ter acesso a produtos originais, visão parecida com a que Sérgio Amadeu expõe em seu texto “Ciberativismo, cultura hacker e o individualismo colaborativo” a respeito dos hackers: “Em geral, na matriz do pensamento hacker está enraizada a ideia de que as informações, inclusive o conhecimento, não devem ser propriedade de ninguém, e, mesmo se forem, a cópia de informações não agride ninguém dada a natureza intangível dos dados”.


ree

As autoridades, porém, não veem a pirataria por esse lado mais “otimista” e, há muito, está sendo travada uma luta contra ela. As indústrias cinematográfica e fonográfica, governos, grandes empresas, artistas independentes, todos unidos contra os contrabandeadores de conteúdo que navegam pelos mares da internet. Contudo, como já foi dito antes, os resultados dessa grande batalha não têm sido tão positivos para os que tentam derrotar os corsários da web. Mas foi quando tudo parecia perdido que surgiu um novo membro que se mostrava capaz de inverter essa situação: a Netflix.


Em 2007, a empresa, que até então atuava como uma “locadora por assinatura” enviando DVDs para os assinantes, resolveu apostar no streaming e, alguns anos mais tarde, se tornou a gigante que conhecemos hoje. Muitas pessoas se viram atraídas pelo serviço, que apresentava quase as mesmas qualidades dos torrents e arquivos ilegais, com a diferença de um pagamento mensal não tão custoso (ainda mais se o valor for dividido entre amigos e/ou familiares), que garante ao consumidor a segurança de não ter que lidar com um vírus antes de dar play no filme e que ele não está infringindo nenhuma lei.


É claro que a pirataria não acabou com o advento das plataformas de streaming, até porque não é tudo que você encontra na Netflix. Ainda existem pessoas corajosas (e não são poucas) que vasculham a internet em busca do torrent perfeito, livre de vírus e, de preferência, com legenda embutida. Porém, em alguns países, o tráfego de BitTorrent apresentou uma queda. Já é comum ouvir alguém perguntar se tal série “tá na Netflix” depois de recomendá-la para a pessoa e é difícil encontrar alguém hoje em dia que não tenha desistido de assistir a algo que não se encontra na plataforma.


ree

Por outro lado, ao mesmo passo que o streaming vem causando essa diminuição em alguns países, a grande quantidade de plataformas que vem surgindo nos últimos tempos parece estar gerando o efeito contrário em outros. Graças aos conteúdos exclusivos oferecidos pelas empresas, muitas pessoas acabam fazendo o download ilegal desses produtos. Um bom exemplo é o do grande fenômeno que foi Game of Thrones. A série foi transmitida pela emissora HBO em televisões ao redor do globo e, no mundo do streaming, ficou restrita aos assinantes do HBO Go. O mesmo acontece com diversas outras produções (como os originais Netflix). Assim, o consumidor se vê obrigado a escolher entre pagar por diversas assinaturas em plataformas diferentes (o que pode sair bem caro) e optar pela boa e velha pirataria.


Existiria, então, um meio de acabar com a pirataria de uma vez por todas? Sejamos sinceros, é provável que não. Amadeu cita Castells para falar de uma “ideologia da liberdade (...) amplamente disseminada no mundo internet” e podemos percebê-la aqui. Por que se limitar ao que “tá na Netflix” quando se tem a liberdade de escolher o que assistir sem ter que pagar por isso? Os riscos existem, é verdade, mas escolher ignorá-los também faz parte dessa liberdade.

Comments


bottom of page